Dados do crescimento de intercâmbios no Brasil

Talvez ainda não estejamos preparados para o que vem por aí. Afinal, já é possível sentir, antes mesmo da apresentação de alguns dados, que existe um enorme crescimento de intercâmbios no país. Não estou me referindo ao programa Ciências sem Fronteiras, afinal, as agências de viagens têm participação importante nos números que vamos abordar neste texto. E, ao concluir, podemos perceber que ambos os setores da economia – público e privado, precisam ser analisados como essenciais no processo de Internacionalização do país.

Aqui, vale fazer um adendo: me permito esclarecer que as principais associações representativas de intercâmbios e que fazem pesquisas e apresentam dados a respeito dessa segmentação do Turismo tem relação com a educação e/ou idiomas, podendo levar ambos os termos “educação” e “idioma” em sua denominação. A título de informação, o Ministério do Turismo define o Turismo de Estudos e Intercâmbios como “movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional”.

A Belta – Brazilian Educational & Language Travel Association, uma das principais associações relacionadas a Intercâmbio no Brasil, registrou dados de crescimento no mercado dos intercâmbios no país em 2017. Segundo Maura Leão, presidente da associação, 94.9% das empresas do trade participantes relataram crescimento em relação ao ano anterior. A  revista Study Travel Magazine publicou em Março deste ano um relatório apontando o crescimento das agências de 23% em relação ao ano anterior, 2017.

Algumas informações a respeito de dados referentes ao crescimento de intercâmbios, tendo o Brasil como um país emissor:

• O Canadá foi o país mais popular segundo a pesquisa da associação Belta, seguido por EUA e Reino Unido, representando os três países mais populares entre os brasileiros;
• Os principais produtos vendidos foram: cursos de idiomas, cursos de idiomas associados a possibilidade de trabalho e programas de férias – continuaram os mesmos do ano anterior, 2016;
• A Associação ELT, Education South Africa, anunciou que obteve um aumento de 55% no número de estudantes brasileiros em 2017;
• O escritório nacional de estatísticas de Malta (NSO) relatou que o Brasil entrou na lista dos Top 5 países que mais enviaram alunos em 2017.

Mas, apesar dos dados de crescimento de intercâmbios, e além da óbvia movimentação financeira que eles representam; por que falar de mobilidades é tão importante? Pode-se dizer que fazer um intercâmbio tem relação com fatores posteriores a ele, ou seja, os resultados que esses períodos no exterior podem gerar. Esses sim são de fundamental importância na vida profissional e pessoal das pessoas – desde aquelas que viajam, até às envolvidas com instituições e países que enviam e recebem alunos intercambistas. Vamos falar sobre alguns fatores que tem relação direta ou indireta com os intercâmbios, como empregabilidade, empreendedorismo e, em uma dimensão mais subjetiva, flexibilidade.

• Empregabilidade

Segundo estatísticas da Comissão da União Europeia (que emite relatórios anualmente referente aos seus programas de internacionalização), existe uma relação direta entre alunos que realizaram intercâmbios com a empregabilidade, em um período de até 5 anos após a graduação desses alunos. Para aqueles que realizaram um intercâmbio durante a sua graduação, as chances de permanecer desempregado , considerando o período de até 5 anos após a formatura, são 23% menores do que a daqueles que não realizaram nenhum período de mobilidade no exterior.

• Empreendedorismo

O relatório da União Europeia The Erasmus Impact Study entrevistou, online e offline, mais de 80 mil alunos, em 2013, para entender quais os impactos da experiência de intercâmbio do programa Erasmus, a maior iniciativa de internacionalização da UE, em suas vidas. Um dos resultados dessa pesquisa tem relação com empregabilidade e empreendedorismo. “Mais de 1 em 3 participantes receberam uma oferta de vaga de emprego nas empresas em que estavam realizando seu estágio. (…) 1 em cada 10 trainees internacionais abriu sua companhia; e mais: 3 entre 4 tem planos de, ou se imagina abrindo uma empresa” (tradução minha).

Leia mais: A logística na Hotelaria

• Flexibilidade

Embora subjetivo, esse é um parâmetro interessante a ser observado. Principalmente pois está ligado à diversidade cultural durante o período do intercâmbio e às necessidades de adaptação que o aluno precisou fazer enquanto no exterior.

Não existe uma resposta certa, nem uma única resposta. A verdade, do meu ponto de vista, é que existe sim a necessidade de mais estudos na área da Internacionalização de forma geral. Intercâmbios, estudar no exterior, trabalhar no exterior de forma temporária, e outras formas de mobilidade, tem crescido significativamente, como mostram os dados de crescimento de intercâmbios acima. Porém é necessário entender quais as consequências desses números. E quais são os resultados de grandes volumes de investimentos públicos e, também, do número de agências privadas que gerenciam o intercâmbio de milhares de pessoas (e, portanto, trabalham com grandes somas financeiras). Falamos a respeito do Brasil, mas no mundo esses números também são expressivos. E há, ainda, a necessidade de entendê-los melhor, afinal, sem entendê-los não é possível utilizá-los para uma gestão adequada de busca por resultados certeiros e o desenvolvimento dos envolvidos em um processo de intercâmbio.

 

Referências

MTur -Livreto Turismo de Estudos e Intercâmbios

Belta

Top Universities

Icef

Alfranseder, E., Escrivá, J., Fellinger, J., Haley, A., Nigmonov, A., Taivere, M. Exchange, Employment, and Added Value: Research Report of the ESN Survey 2011. Brussels: Erasmus Student Network AISBL, 2012.