Os 7 maiores desafios do Turismo
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Hoje decidi falar sobre um tema que sempre me intriga, os desafios do turismo. Na verdade, o Turismo passou de indústria para um fenômeno numa velocidade assustadora. E todas as mudanças, mesmo que positivas e que possibilitam desenvolvimento, acabam por enfrentar desafios sociais, culturais, econômicos e ambientais, afinal o Turismo não se desenvolve isoladamente, mas dentro de comunidades, que tanto podem tanto receber como emitir turistas. E é de fundamental importância termos consciência de como estamos afetando o cenário regional, nacional e mundial com a nossa atividade. É, portanto, sobre os desafios do Turismo que vou falar hoje.
Os 7 maiores desafios do Turismo
Entendo a atividade turística como um fenômeno sem precedentes, que transforma as sociedades emissora e receptora, e todos os stakeholders envolvidos. A complexidade do Turismo não exime os profissionais do trade turístico da responsabilidade para com as sociedades direta ou indiretamente afetadas, com o impacto no meio ambiente e a mudança em culturas milenares, nem mesmo com o bem estar a satisfação dos turistas. Como profissionais do Turismo, temos alguns desafios importantes ao longo de nossas carreiras. Trago alguns dos desafios do Turismo que eu considero fundamentais para nós, profissionais dessa atividade. Mas preciso fazer uma ressalva… Sempre que penso nos desafios, consigo imaginar uma lista enorme! Então procurei elencar aqui os que considero mais importantes no momento! Vamos à eles:
Desafios do Turismo
- Desenvolvimento Sustentável da atividade turística
Desenvolvimento sustentável do meio ambiente, da economia, das cidades, paisagens, prédios, comunidades e culturas. Falamos em consumo exacerbado, em capitalismo desenfreado, temos grandes e numerosos shoppings centers. No Turismo, também podemos falar em consumo da cultura: Commodification of Culture (comodificação cultural), e também do excesso de voos quando falamos em Binge Flying (ou o consumo sem controle de voos) – e da direta relação do Turismo com os quase 9% de emissão de carbono no mundo. O Turismo tem a grande vantagem de trazer todas as disciplinas em si, todas os setores da economia precisam conversar com o Turismo – e vice-versa.
Mas essa situação também é um dos maiores desafios que temos enquanto turismólogos. Talvez não seja possível nos especializarmos em todas as áreas, mas se conseguirmos conversar com as demais, poderemos pensar em um Turismo interdisciplinar (ou multidisciplinar?), conectado e que entende que existem demandas e necessidades de áreas, setores e stakeholders diferentes. E o mais difícil aqui é conseguir equilibrar os interesses e necessidades dos diferentes grupos envolvidos.
Entretanto, quando falamos em desenvolvimento sustentável, precisamos lembrar que não falamos “apenas” do meio ambiente. Mas do equilíbrio que precisa existir entre o desenvolvimento do meio ambiente, da economia e das sociedades e culturas. É o que conhecemos pelo famoso tripé da sustentabilidade.
Não pretendo aqui trazer uma solução – aprendi que os esforços para um desenvolvimento sustentável devem ser constantes e não há um período pré determinado para que sejamos sustentáveis. É um objetivo eterno, perene quiçá. Mas entendo que as relações que construímos são fundamentais para que consigamos efetivamente ver mudanças acontecendo.
- Academia e Mercado – ou prática e teoria!
Começo falando em colaboração. De novo? Eu sei. Mas talvez essa seja a palavra da vez. Pensa nas ideias que podemos ter se trabalharmos em grupos. E mais, se fizermos brainstorming com pessoas que pensam diferente, que trabalham em setores diferentes e tem perspectivas diferentes?
O grande desafio do Turismo nessa relação é que a academia e o mercado (ou a indústria) tem objetivos diferentes: a academia tem como objetivo a produção de conhecimento útil para a economia. E o conhecimento que a indústria produz tem por objetivo criar vantagem competitiva e visa o lucro. Sem a academia, o mercado toma decisões que podem não levar em conta os mais diferentes aspectos do desenvolvimento sustentável, como vimos acima. Porém, sem o mercado, a academia pode acabar obsoleta, lenta, ultrapassada.
Entendo que precisamos da teoria, da reflexão, das discussões, das pesquisas científicas e dos diversos métodos para fazê-las, mas também precisamos da agilidade, do dinamismo, da produtividade e dos resultados do mercado. Um dos fatores que podem diminuir essa barreira entre a academia e o mercado é a colaboração, e a parceria com diferentes agentes (comunicação, networking, colaboração, etc.)
- Integração da sociedade receptora
Entre tantos casos de Turismofobia, em que várias cidades estão saturadas de turistas e de problemas resultantes do mal planejamento da atividade turística, podemos acabar esquecendo que o Turismo é uma atividade que desenvolve diversas comunidades desde um ponto de vista econômico. O Turismo não é e não pode ser considerado o vilão. Mas pode ser melhorado. Temos o case de Gramado, no Rio Grande do Sul, por exemplo, em que a gestão pública observou que quanto mais envolvesse a comunidade local no planejamento e desenvolvimento da atividade turística na região, mais aceito era o Turismo.
Porém, vale ressaltar que a integração é necessária não apenas para que a comunidade aceite a atividade turística de forma positiva. Mas para que o Turismo seja planejado de forma a atender aos anseios e necessidades das pessoas que vivem nos destinos. E o desafio é justamente esse. Como equilibrar tantos interesses distintos – de civis, empresas, ongs, academia e turistas – de maneira a realizar um planejamento sustentável e que atenda as reais necessidades daqueles que fazem parte da atividade?
E fica aqui a reflexão: da mesma forma que eu me pergunto se todos os lugares do mundo podem ser interessantes pro Turismo, eu tenho dúvidas se todas as comunidades tem interesse em receber a atividade.
- Educação do turista
Deveria dizer preparação e desenvolvimento da sociedade emissora? Pode soar estranho, mas faz mais sentido do que qualquer outro tópico. Em um mundo de intercâmbios e internacionalização, a preparação do Turista que vai viajar é importantíssima. Pois ele é agente diretamente envolvido na formação da imagem e reputação de um destino. Ele não só é responsável contribuinte pela formação da imagem e reputação do seu local de origem quanto responsável pelas transformações que efetua nas comunidades que visita, no destino.
Tanto quanto integrar e capacitar as comunidades receptoras, é fundamental estar atento à preparar aquele que viaja. E que, direta ou indiretamente, é responsável por transformações. De forma prática, se falamos em desenvolvimento sustentável, falamos em preservação (há controvérsias quanto ao uso desse termo) de culturas milenares e tradições das comunidades. Algumas tradições podem soar estranhas, podem parecer ir contra ao que, enquanto turistas, acreditamos e aos valores que consideramos corretos, mas isso significa que os valores das comunidades que visitamos estão errados?
Eu posso ser suspeita pra falar, afinal, acredito que a educação é o caminho para o respeito e para o desenvolvimento sustentável do Turismo. Mas acredito veementemente que precisamos colocar atenção no turista, para que ele entenda que quando viaja é ele quem precisa se adaptar às leis, regras sociais e cultura do destino. E não o contrário. Mas em um mundo globalizado, em que cada vez mais buscamos nos identificar com os lugares que visitamos, esse se torna um grande desafio para nós turismólgos.
5. Manutenção da história e cultura – Globalização, e agora?
Seguindo a ideia do desafio anterior, entramos em outro bastante controverso, principalmente do ponto de vista antropológico. Smith (2001), diz que a “natureza da globalização da cultura é importante para o turismo em relação às problemáticas do olhar do turista e, ainda, à herança e autenticidade” (tradução nossa, p.25). A cultura é dinâmica e muda constantemente e, devido à globalização, esse processo tende a ocorrer de forma mais rápida e, às vezes, sem planejamento. Os impactos e resultados podem não ser sempre positivos.
E é preocupante porque, de fato, não temos como parar o processo de globalização. Mas… Como ficam os traços culturais que “perdemos” pelo caminho? E as tradições que nãos mais podemos recuperar? Bom, não é um tema fácil. Portanto, decidi abordá-lo brevemente como um grande desafio que temos como turismólogos, porque realmente acredito que esse é um dos grandes desafios do Turismo.
6. Internacionalização do Turismo
“Internationalization at the national, sector, and institutional levels is defined as the process of integrating an international, intercultural, or global dimension into the purpose, functions or delivery of postsecondary education.” (Knight, J.)
(“Internacionalização a um nível nacional, setorial e institucional é definida pelo processo de integração de dimensões internacional, intercultural ou global nos propósitos, funções e resultados da educação superior” (Knight, J.)
Integração de diversos setores e esferas dentro de um país já começa complicando as coisas. Exige um diálogo muito estreito dentro de uma nação. E um esforço coletivo para que a Internacionalização seja efetivamente concretizada em um país. Nesse caso, me refiro ao Brasil.
À título de informação, deixo aqui os passos propostos pela CAPES para a Internacionalização das Instituições no país:
Como internacionalizar uma instituição:
- Analisar o contexto
- Cruzar a missão com o que é necessário – o que é interessante internacionalizar
- Compromisso – Política institucional, a direção, professores, funcionários e estudantes – consciência e motivação
- Planejamento – identificar necessidades e recursos (preparação psicológica do aluno)
- Operacionalização
- Implementação
- Revisão (avaliação, melhora qualidade, impacto das iniciativas, do processo e das estratégias)
- Desenvolvimento de incentivos, reconhecimentos, prêmios para funcionários e professores.
Não é algo simples e é, por essa razão, que trato dela como um dos desafios do turismo. Claramente, precisamos preparar não somente a instituição, mas os funcionários e os alunos dentro de um processo com objetivos firmes para longo prazo. Eu me arrisco à dizer que precisamos focar no desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos.
Vale ressaltar que o foco nesse texto é a Internacionalização através de mobilidades, ou intercâmbios, e não necessariamente a integração com Universidades estrangeiras – embora esse seja um ponto interessantíssimo da Internacionalização.
Por fim, algo muito importante trazido pela professora Marília Morosi (2015) é que os critérios Institucionalização da Internacionalização devem ser claros. E no Brasil eles ainda não o são. Isso se deve principalmente ao fato de que copiamos modelos quando, na verdade, deveríamos criar novos que se adaptem à nossa realidade.
7. Internet e tecnologia
Desafio ou oportunidade?
Sempre faço essa pergunta. E a resposta a que chego é sempre: ambos. A internet e as novas tecnologias se apresentam tanto como desafios do turismo quanto como oportunidades que trazem diversas possibilidades aos profissionais.
Mas o fato é que as novas tecnologias, incluindo a internet, tem mudado a forma como trabalhamos e como fazemos as coisas. As agências de viagem não mais apenas outras agências de viagens como concorrentes, a internet é hoje uma delas. Os celulares, aplicativos móveis, redes sociais e outros permitem que o turista tenha liberdade para planejar sua viagem, expressar sua opinião e organizar seus próprios passos da atividade turística. O resultado dessas possibilidades são gestores do Turismo que precisam lidar com comentários de todos os tipos – verdadeiros e falsos, com preços muito mais baratos, com diminuição no número de clientes, com concorrência sem precedentes, e outros.
Então sim, esse é um dos grandes desafios do Turismo no Brasil! Como trabalhar com a internet? Como se destacar em meio à tantas ofertas? Como conseguir vender online? Quais são as habilidades que preciso desenvolver e como me capacitar para trabalhar na internet e com as novas tecnologias?
E vocês? Quais vocês acham que são os desafios do Turismo?
Para qualquer contato, enviar e-mail para equipeturismologia@ gmail.com e se quiser seguir as redes sociais da empresa, o endereço para Instagram e Youtube é @_turismologia. E caso tenha dúvidas ou sugestões de assuntos, pode se sentir livre para comentar aqui embaixo… Queremos mesmo que você faça parte da nossa comunidade! Seja muito bem-vindo, colega 🙂
REFERÊNCIAS
Carlsen, J.; Liburd, J.J.; Edwards, D. The Importance of Networks for Innovation in Sustainable Tourism, Best en Think Tank X
G€ossling , S. Tourism, tourist learning and sustainability: an exploratory discussion of complexities, problems and opportunities, Journal of Sustainable Tourism, 2017.
Bruneela, J.; D’Esteb, P.; Saltera, A. Investigating the factors that diminish the barriers to university-industry collaboration
SMITH, V. L; BRENT, M. Hosts and Guests Revisited: tourism issues of the 21st century, 2001.
KNIGHT, J. Updating the concept of Internationalization (como não tenho ano e mais informações, vou deixar o artigo aqui, em anexo)
Formação de Carreiras no Turismo, sou Mestre em Gestão de Turismo, fundadora da Escola de Turismólogos e do Turismologia.
Com mais de 13 anos de experiência no Turismo, ofereço capacitação para empresas do Turismo, acelerando resultados e aumentando produtividade, através de palestras e treinamentos.
Boa noite
Artigo muito interessante. Estou a desenvolver uma reflexao, olhando para os países em desenvolvimento.
Muito obrigado.
Oi José Julião,
Obrigada pelo comentário! Me passei e só o vi agora!
Que bom que o artigo está ajudando, porém preciso ressaltar que atualizei essa versão e vou fazer o upload no site por esses dias.
Acredito que alguns pontos precisarão ser acrescentados devido à pandemia!
Um abraço!
Paula